19 setembro 2013

UM CEARENSE DE PENTECOSTE É O ARTILHEIRO DO BRASILEIRÃO

EDERSON SUPEROU MORTE DO FILHO E LESÃO GRAVE PARA SER ARTILHEIRO DO BRASILEIRÃO

Atacante deixou a pequena Pentecoste, no Ceará, peregrinou por times do Nordeste e enfim se firmou no Atlético-PR. Conheça a história do atleta, hoje na mira dos europeus.

Ederson é o artilheiro do Brasileirão com 13 gols

Em dias de jogos do Atlético-PR a cidade de Pentecoste, a 89 quilômetros de Fortaleza, inicia a preparação para assistir à partida ainda pela manhã. O televisor é colocado estrategicamente na Praça Pernardino Gomes Bezerra, no centro, e as ruas ganham cores com faixas e placas. São poucos os que torcem pelo time de Curitiba, mas todos eles têm um desejo em comum: ver o atacante Ederson, artilheiro do Brasileirão com 13 gols.

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A adoração de cerca de 35 mil pessoas da cidade não é à toa. Foi em Pentecoste, no ano de 1989, que Ederson nasceu, filho de Valdemir Rosa da Silva, de 45 anos, e Eliane Alves Ribeiro Silva, de 43. Família humilde, de poucos recursos financeiros, mas que, unida, batalhou para tornar realidade o sonho do filho de ser jogador de futebol.

O desejo de Ederson surgiu ainda quando ele ainda era pequeno. Não se permitia nem por um segundo ficar sem o brinquedo favorito. A bola o acompanhava na hora do almoço, da diversão na rua e até mesmo durante as aulas no colégio. Por diversas vezes, recebeu puxões de orelha da mãe por quebrar os objetos da casa. Mas, mesmo assim, não desistia da redonda.

Ederson quando criança. Foto: Arquivo pessoal

A persistência sempre foi uma característica de Ederson. E por isso o atacante foi aprovado em testes para as categorias de base do Ceará. Com apenas 15 anos, durante jogos festivos da cidade no fim do ano, o jovem foi observado e levado para a capital Fortaleza para treinar. No dia seguinte, recebeu a ligação dizendo que havia sido aprovado e providenciou os documentos necessários, pois já iria disputar o Campeonato Cearense Sub 17. Viajou para Fortaleza com as economias da família e as doações de amigos e estreou pela equipe com cinco gols na vitória por 7 a 0 contra o Tiradentes.

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Giuliano Gomes/Gazeta Press. Ederson comemora gol sobre o Fluminense


No novo clube, passou a morar no alojamento da base e mantia o contato diário com os pais, que se esforçavam para mensalmente enviar uma quantia que
pudesse ajudá-lo. Eles organizavam bingos pela cidade, arrecadavam o dinheiro e mandava para o filho. Foi assim até 2007, ano em que o Atlético-PR, que mantinha um acordo com o Ceará e promovia o
intercambio de atletas da base, levou o atacante para Curitiba.

Antes de mudar de Estado, os pais de Ederson conheceram as dependências do clube paranaense e concordaram em deixá-lo jogar por lá. A partir daí, passou a ganhar uma ajuda de custo e não mais precisava que os pais o ajudassem. Pelo contrário, foi ele quem passou a ajudar a família em Pentecoste. Demorou para adaptar-se no Sul do país e, quando completou 18 anos, em 2007, foi emprestado para disputar a Série B do Campeonato Brasileiro pelo Ceará.

O desempenho no início da competição foi bom, mas em julho veio a notícia triste: Ederson sofreu uma lesão completa do ligamento cruzado anterior do joelho e teve que passar por cirurgia. O atleta retornou para Curitiba e iniciou a recuperação que o afastou dos gramados durante seis meses.

Em 2010, o goleador voltou a ser emprestado, desta vez para o ABC. Em Natal, no Rio Grande do Norte, Ederson conheceu Deise e casou-se. Vivia bom momento dentro de campo, sendo um dos destaques da Série C do Brasileiro e também do Campeonato Potiguar, e fora dele curtia, ao lado da esposa, a gestação do primeiro filho, Heitor. No entanto, com oito meses de gravidez, Deise sentiu que o bebê não estava mais se mexendo e resolveu ir ao médico. Após exames, fora constatado que o cordão umbilical enrolou no pescoço de Heitor e o tirou a vida. Foi o maior drama já vivido por Ederson.

Julia Abdul-Hak/Agência Eleven/Gazeta Press. Ederson com o técnico Vágner Mancini: Atlético-PR na luta por vaga na Libertadores

Embora abatido com a morte do filho, o atacante não deixou de cumprir seus compromissos com o ABC. Treinava, jogava e, mesmo quando o descanso era pouco, fazia questão de visitar a esposa todos os dias no hospital.
Juntos, eles se apegaram à religião e intensificaram as idas à Congregação Assembleia de Deus. Meses após a morte de Heitor, Deise descobriu que estava grávida novamente e, no dia 11 de outubro de 2012, Esther nasceu. Ederson não pensou duas vezes e no braço direito imortalizou o nome dos dois filhos com uma tatuagem.

Animado pelo nascimento da filha, Ederson ainda contou com a confiança do técnico Ricardo Drubscky para continuar no Atlético-PR e tentar subir na carreira. No início de 2013, o treinador convenceu a diretoria do clube amantê-lo, à princípio para a pré-temporada na Espanha. Agradou, fez gols e foi mantido no elenco para a disputa do Brasileirão e da Copa do Brasil. E então Ederson "surgiu" para o futebol brasileiro.

"Eu acreditei no potencial dele. Ele é um menino excelente, muito bom jogador e que está passando por uma fase de fixação. Como tudo na vida, nós precisamos de oportunidades, e foi isso que dei a Ederson. Eu tinha certeza que ele tinha qualidade e, para nossa felicidade e por mérito dele, está vivendo essa boa fase", falou Drubscky, hoje no Joinville, ao iG .

O fato de disputar a Série A pela primeira vez não intimida o atacante, e os gols chamam a atenção também fora do Brasil. Recentemente, ele recebeu sondagens de clubes da Ucrânia e da Espanha, porém, o Atlético-PR logo tratou de estender o vínculo até dezembro de 2016. Contra o Flamengo, nesta quinta-feira, às 19h30, no Macaranã, ele promete fazer mais.


Fonte: Site do IG. Reportagem de Gabriela Chabatura - iG São Paulo.

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